Em Lagarto já existiram três bandas de música, sendo a Filarmônica “Lira Popular” a única que se mantém ativa nos dias atuais. A fim de construir a memória dessa instituição e compreender os motivos que levaram à sua criação, recorremos a uma sequência de fatos e narrativas que envolvem os personagens. A história da referida Associação Musical surgiu no início da segunda década do século XX em 1921, já com a luta acesa em Lagarto e a rivalidade que existia entre os políticos. À época, funcionava a “Lira Euterpe Lagartense”, a primeira banda de música fundada em 1862 pelo Padre José Saraiva Salomão que após a sua morte em 1874, foi regida pelo maestro Hipólito Emílio dos Santos, embora com altos e baixos ficando quase paralisada por causa da perseguição e a vida ameaçada, porém, não resistiu ao abandono de alguns músicos que, convidados pelo Cel. Acrísio d’Ávila Garcez chefe político do partido Cabaús, que tinha o sonho de criar uma filarmônica em oposição a sua rival, se juntaram a ele com esse objetivo, para discutirem a possibilidade da formação de uma nova Banda de Música. Depois que trataram do assunto na casa do Cel. Acrísio Garcez com o principal propósito de realizar a criação da banda para reforçar e fortalecer os Cabaús, o partido político em que naquela época ele era membro e o chefe político local, esse conjunto de antigos músicos que saíram da “Lira Euterpe Lagartense” apoiaram a decisão dele.


No entanto o início de sua formação, o grupo não possuía nome, sendo conhecido apenas como “Banda de Seu Acrísio” e juntos resolveram agradar o Cel. Acrísio Garcez que aprovou a atitude e a sua finalidade, que estando de acordo reafirmou suas palavras, foi assim intitulada e consolidou a sua atividade, formada basicamente por alguns músicos oriundo da “Lira Euterpe Lagartense”, que depois de confirmado indicou João Ferreira do Espírito Santo para gerenciar e coordenar como maestro e regente. Escolheu e nomeou também os outros membros da diretoria que logo assumiram como os primeiros dirigentes, eleitos e empossados. Mas a denominação verdadeira da Banda surgiu em 29 junho de 1921, e a partir daí, eles deram o nome a instituição de Filarmônica “Lira Popular”, então a Banda de Seu Acrísio, como era conhecida por todos passou a ser chamada “Filarmônica Lira Popular”. A denominação da entidade foi uma homenagem ao povo de Lagarto. Daí ele mandou então João Ferreira providenciar a documentação e o estatuto social da entidade.

O primeiro ano de vida da Filarmônica envolveu muito trabalho e sacrifício, a partir de julho de 1921 até meado de 1922 foram meses de ensino e organização até chegar os instrumentos musicais que seu fundador mandou comprar alguns em Salvador e outros em São Paulo. Também foi providenciado o uniforme. Ao chegar os instrumentos musicais começaram os ensaios com os músicos antigos e iniciou-se então suas atividades em público com um quadro de 21 músicos. Sua primeira apresentação ocorreu em 22 de setembro de 1922, conforme é identificado na sua primeira fotografia tirada em frente ao antigo “Talho da Carne” e publicado no Almanaque de Sergipe. Oriundos dá primeira banda antiga, com a criação desta nova banda, eles herdaram a disciplina e a organização originário da família musical Lira Euterpe.

No início, a banda tinha como seu primeiro uniforme, calça azul marinho, túnica e quepe com o distintivo, paletó azul marinho com botões dourados, camisa branca manga longa, gravata, sapatos com cadarços e meia preta. Mas depois seu uniforme foi modificado, passou a ser de linho branco e terno com botões dourados, túnica e quepe com o mesmo distintivo, camisa branca também de manga longa, gravata, sapatos com cadarços e meia preta. Mas as vezes observamos em fotografias antigas alguns músicos de uniforme diferente, por terem ficado apertadas. Os anos foram passando e houve uma evolução sem par, tendo sido da responsabilidade do então professor e primeiro maestro João Ferreira do Espírito Santo a estruturação e organização. Também o quadro orgânico da Filarmônica foi redimensionado e estruturado de forma a fazer face às suas necessidades artísticas. Logo os músicos e aprendizes aperceberam de que tinha um maestro dedicado e competente, que muitas das vezes punha o seu interesse pessoal em prol da Filarmônica. A banda fez apresentações memoráveis, através de seu grande prestígio político, a Filarmônica conseguiu dá vida a cidade. Uma das suas passagens mais importantes na história da cidade, foram nas inaugurações da “Energia Elétrica” em Lagarto, por volta de 1922, o “Talho da Carne”, o “Matadouro” antigo, o “Coreto” da Praça da Piedade em 1932, o antigo “Balneário da Bica”, a “Maternidade Monsenhor Daltro”, a “Praça Silvio Romero”, o “Mercado Municipal”, a reforma da “Praça Filomeno Hora”, “Rosendo Palace Hotel”, Escolas etantas outras inaugurações. Satisfeito e alegre, o Cel. Acrísio Garcez estava sempre à frente da Filarmônica, a qual em cada amanhecer do dia 07 de junho, dia do seu aniversário, a banda com seus acordes, despertava a cidade com alvorada que terminava em festa na sua residência, por ser ele liderança política local na cidade. Seu último aniversário foi comemorado no dia 07 de junho de 1967.

O Cel. Acrísio Garcez, permaneceu como presidente por longo período, até o final do ano 1958, quando perdeu o poder político em Lagarto para Dionísio de Araújo Machado, indo a ficar mais na Fazenda Piauí sem aparecer na cidade, nomeando assim outro como presidente da Banda em seu lugar, mas a Filarmônica continuou sob a sua proteção e a mantê-la. Mas Acrísio Garcez seu fundador e patrono se afastou obrigatoriamente da filarmônica em 1968 por motivos de saúde e veio a falecer na fazenda em 06 de setembro de 1969. A Filarmônica a partir desta data ficou aos cuidados de José Ribeiro de Souza (Zé Coleta) e Pedro Batalha de Gois (Pedrito), que assumiram o comando e logo convocou as presas uma reunião com os músicos e a diretoria numa assembleia para deliberarem a nova diretoria da banda, onde na ocasião José Ribeiro de Souza, ele mesmo foi eleito ao cargo de presidente, e que posteriormente foram passando a outros.

A Banda caminhava em parceria, inclusive todos os eventos em que havia a presença da Banda esta, porém, se dedicava mais à participação de festas e ofícios estritamente religiosos. Aos poucos foi aumentando a frequência das suas apresentações. Em retretas e passeatas, alvoradas e homenagens a personalidades ilustres, a Filarmônica “Lira Popular” estava presente em todas as comemorações cívicas, sociais e religiosas da cidade. Hoje, centenária, procura com auxílio da comunidade local e do poder público, aprimorar cada vez mais as suas apresentações. Sempre estão mudando o uniforme da banda para melhorar o seu visual. Passando pela década de 1970 até o ano de 2019 foram confeccionados vários uniformes que embelezaram o quadro corporal da Banda.

A Banda possui um “arquivo morto” organizado e bem guardado, onde contém algumas papeladas como partituras antigas que a Filarmônica acumulou durante a sua existência, e não podem descartar, evitando grandes perdas inesperadas de sua história. Foram catalogadas várias obras de diferentes estilos e compositores dos séculos XIX e XX no acervo da banda que passa por diferentes épocas onde um determinado estilo predominava e depois caía em desuso, sendo a maioria das composições e obras de autores antigos e locais.

Da principal função que lhe foi dada no ato de sua criação, restam a tradição e a história musical contadas em partituras. Atualmente e completamente desvinculado da participação político-partidária, faz parte do Patrimônio Histórico e Cultural da cidade de Lagarto.

Nesse contexto, nasceu em Lagarto, em 29 de junho de 1921, a Associação Musical Filarmônica “Lira Popular”, por iniciativa do Cel. Acrísio d’Ávila Garcez: Líder político na cidade, pecuarista, fazendeiro e produtor rural. O objetivo claro da criação da associação musical foi a política local no início do ano de 1921. Mas a Lira Euterpe Lagartense continuou funcionando precariamente até meado do ano de 1933, quando veio a ser extinta. Em 1958 a Lira Popular viveu um curto período de inatividade, alguns meses. Mas depois no mesmo ano, ressurgiu com todas as forças as suas atividades, atingindo sua maior projeção, sendo sobretudo auspiciosa e dotada de notável qualidade artística.

Desde a sua origem a associação musical, em geral, sempre se manteve próxima do poder político local. A sua existência sempre esteve condicionada a realização de eventos e comemorações em que se fazia necessário o destaque através da música. Ao longo dos seus 100 anos de existência, os seus maestros dirigiram centenas de executantes, que promoveram e popularizaram a arte dos sons e prestigiaram a nossa terra.

Hoje o forte da filarmônica é ser Escola de Música. Desde o ingresso até sua formação, o músico recebe todas as condições para que possa participar da Banda e aprender música gratuitamente. Até mesmo as mulheres ocupam um bom espaço dentro da Banda e há muitos anos começaram a fazer parte do grupo de músicos com o principal objetivo de reforçar e fortalecer os pilares da Filarmônica “Lira Popular”.

FONTE Revista-no-8-2021LiraPopular, (Historial)Luís Jorge Pinheiro de Araújo.

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